

DADOS E REFLEXÕES
Ninguém nasce consumista. Isso é o resultado de uma cultura, de um sistema de crenças, que vai sendo construído ao longo dos anos. Como sabemos, a criança, que acabou de chegar ao mundo e pretende se adequar a ele, ser acolhida por ele, está muito suscetível ao ambiente. Tanto ela quanto o adolescente observam o mundo e absorvem seus valores – alguns mais, outros menos. Porém, o apelo ao consumo é veemente, e os mecanismos de persuasão são inúmeros. Imagine uma pessoa que ouve dos amigos, dos adultos que admira, das campanhas publicitárias, dos programas televisivos, dos youtubers, dos desenhos, dos jogos e dos brinquedos (e de diferentes formas, umas mais e outras menos explícitas) que comprar é importante, que ter algo caro é importante para ser feliz, para ser respeitada e admirada. E, claro, o poder de consumo é sempre relativo… As famílias, por mais que tentem trocas justas com os filhos, são sempre coagidas a darem mais, a comprarem mais, a suprirem, ainda mais, as necessidades de consumo dos filhos.
A publicidade infantil está bastante atrelada a esse cenário. O personagem do filme preferido vem estampado em produtos de higiene e de alimentação. É como se o próprio personagem que permeia esse imaginário infantil apresentasse e sugerisse que se compre aquele produto. E isso é absolutamente persuasivo para os pequenos. Como a criança ainda está em processo de maturação biológica, ainda não teve experiências de aprendizado suficientes para construir uma interpretação crítica da publicidade e dos estímulos que lhes são dirigidos. Por isso, a criança depende da análise e do discernimento dos adultos e dos seus responsáveis para se proteger daquilo que pode lhe prejudicar.
A publicidade voltada à criança causa sérios e graves impactos na compreensão de mundo, no desenvolvimento de valores, de autoimagem e de autocuidado. É justamente por isso que se defende que a publicidade de produtos dirigidos à criança deva ser voltada aos familiares e aos responsáveis. Estes, sim, estão aptos a discernir e a analisar o discuso publicitário.
As crianças e adolescentes, que estão sob maior influência do consumismo, sofrem com seus excessos: “obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e de álcool, estresse familiar, banalização da agressividade e violência, entre outros problemas. Nesse sentido, o consumismo infantil é uma questão urgente, de extrema importância e de interesse geral.”¹
Uma pesquisa realizada² no ano de 2003 pelo Instituto Interscience Informação e Tecnologia Aplicada aponta, por exemplo, que 80% das decisões de compra de uma família são influenciadas pelas crianças. “Carros, roupas, alimentos, eletrodomésticos, quase tudo dentro de casa tem por trás o palpite de uma criança, salvo decisões relacionadas a planos de seguro, combustível e produtos de limpeza, que têm pouca influência dos pequenos.”²
Por fim, devemos lembrar que crianças e adolescentes são um alvo não só porque escolhem o que os seus pais compram, mas porque aprendem, desde muito cedo, a consumirem e a serem fiéis a marcas. É um hábito que vai lhes sendo imposto, ainda que, muitas vezes, de forma velada. Por isso, a responsabilidade sobre o consumismo infantil e adolescente transcende a estrutura familiar e a escolar. É de ordem ética, econômica e social. A família e a escola, por estarem em posição privilegiada de influência e de formação de crianças e adolescentes, devem estar atentas a essa questão e devem produzir situações de debate e de esclarecimento sobre os hábitos de consumo.
Ser consumista não é uma condição inata – é um sistema de crenças e de hábitos adquiridos. Da mesma forma como uma criança aprende a consumir desenfreadamente, é também capaz de aprender e desenvolver o consumo consciente. A criança e o adolescente têm a capacidade de, através da mediação dos adultos, criar um senso de consumo justo e equilibrado. A situação exige, dessa forma, acompanhamento e participação ativa dos adultos como mediadores.






Referências:
¹Consumismo infantil – um problema de todos. Disponível em http://criancaeconsumo.org.br/consumismo-infantil/
² INTERSCIENCE, Informação e Tecnologia Aplicada.2014.Consumismo infantil um problema de todos. disponível em:< http: // criancaeconsumo.org.br/wp -content/uploads/2014/02/Doc-09-Interscience.pdf.> Acesso em 09 Janeiro, 2017.
³idem 1